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sábado, 13 de dezembro de 2008

TANGO – escape, romance, alma, drama


Há quase um século que o tango apoderou-se de Buenos Aires e hoje ainda ocupa o centro da vida sentimental dos poteños - os habitantes da cidade portuária de Buenos Aires – porque o lirismo ansioso, arrebatador e sublime da música faz parte da definição essencial do que significa pertencer a esta cidade maltratada e resplandecente.

Com efeito durante os dias sombrios de 2002, registou-se um interesse renovado pelo tango: depois da bonança económica do inicio da década de 1990, que encheu Buenos Aires de ostentação, metade da população viu-se arrastada para níveis abaixo do limiar da pobreza pela mais grave crise económica da história da Argentina. Mesmo quando lutavam para conseguir pagar as contas dos serviços públicos ou para evitar o desalojamento, muitas pessoas encontravam um novo significado nesta música nem fácil nem frívola. Bem adequada ao tempo presente.


No final do século XIX, uma vaga de imigrantes europeus, sobretudo italianos, fixou-se na Argentina. Com as suas canções melódicas, enriqueceram o que inicialmente não passava de uma música simples e de uma dança reprovada: o tango.

Buenos Aires consolidou a sua identidade como a cidade imigrante e, nos anos 1920, o tango era a música geralmente aceite. As danças das comunidades de escravos libertos africanos forneceram a base rítmica, cabendo a um instrumento de fole alemão (o bandoneón) os inconfundíveis queixumes lamurientos e o whump-whump subjacente ao som clássico do tango. A música foi igualmente influenciada pelo estilo melancólico dos musicais populares franceses, em grande parte, creio, devido a um tal Charles Gardes- nascido em França, em 1890, e trazido para Buenos Aires pela mãe aos três anos.

Tornado mundialmente conhecido com o nome de Carlos Gardel, foi a verdadeira personificação do romance entre os argentinos e esta canção.
Cantor e compositor brilhante, Gardel tornou o ritmo vigoroso do bordel do tango num lamento duradouro. Cantou de maneira inesquecível os sentimentos que atormentavam os seres humanos em todo o mundo: o fracasso, a passagem do tempo, a morte do amor e a quebra de confiança.

“Mi Buenos Aires querido” entoa o cantor. Os pares tentam coordenar-se: um parceiro não consegue mover-se sem o outro, apenas as mãos do homem dizem à mulher para onde se deve mover e as pernas dizem um ao outro o que fazer, coxa contra coxa. Um, dois, três, quatro, cinco. Buenos Aires mi Buenos Aires.

Sensual. De enternecer. Uma forma de luto ou de escape. Estes são os fascínios do tango, dança devassa e canção melancólica dos bordeís de Buenos Aires dos finais do século XIX.

Fonte: National Geographic – Dezembro de 2003

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